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#Érica de Oliveira Araújo

PLANTAS DE COBERTURA: aliadas do produtor na saúde do solo

PLANTAS DE COBERTURA: aliadas do produtor na saúde do solo

Érica de Oliveira Araújo1 e Matheus Henrique Vidor Ferreira2

1Prof.(a) Doutora em Agronomia, Departamento de Agropecuária, Instituto Federal de Rondônia, Campus de Colorado do Oeste, Colorado do Oeste- Brasil. Autor correspondência:erica.araujo@ifro.edu.br

2Técnico em Agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Campus de Colorado do Oeste, Colorado do Oeste- Brasil.

 

O produtor rural, o técnico, o auxiliar e muitos extensionistas ainda têm dúvidas sobre as potencialidades das plantas de cobertura na saúde do solo. Mas o que são plantas de coberturas? Como o nome já diz, as plantas de cobertura têm a finalidade de cobrir o solo, no entanto, seus benefícios nos sistemas de produção vão para além, estendendo-se aos componentes físicos, químicos e biológicos do solo, uma vez que estas plantas são capazes de melhorar os teores de matéria orgânica, a atividade biológica, a estrutura e agregação do solo, a disponibilidade e equilíbrio de nutrientes, a infiltração e armazenamento de água, as condições de enraizamento das plantas ao longo do perfil do solo, além de prevenir a erosão e aumentar a produtividade das culturas.

Nesta premissa as plantas de cobertura são enfatizadas como estratégia para melhorar a saúde do solo, especialmente em regiões tropicais, na qual a recuperação da qualidade do solo em áreas degradadas é desafiadora e requer práticas conservacionistas.

Figura 1. Benefícios ao funcionamento do solo fornecido pelas plantas de cobertura.

Fonte: Carvalho et al., (2022) e Foto: Bruna Emanuele Schiebelbein

O uso de plantas de cobertura, visando obter a melhoria da qualidade do solo é uma técnica agrícola muito antiga, sendo a civilização chinesa a primeira a desempenhar essa atividade, seguida pelos gregos e romanos (Pieters, 1927). No Brasil, o primeiro registro da utilização de adubos verdes data do ano de 1919, relatando que o êxito da prática, depende de estudo, da escolha das espécies, da cultura que se pretende beneficiar e das características edafoclimáticas locais (Conceição et al.,2022). Então, não existe uma espécie de planta de cobertura que se adeque a toda e qualquer condição edafoclimática, sendo o diagnóstico adequado das limitações do sistema de produção importante para auxiliar na escolha das espécies com maior potencial em agregar benefícios para o sistema.

Aliadas a conservação do solo e como possibilidade na construção da qualidade do solo, as plantas de cobertura podem ser classificadas em dois grupos: as poáceas (gramíneas) e as leguminosas (fabáceas). Em sistemas de manejo conservacionista que preconiza pela manutenção da palhada no solo, as poáceas são opção por apresentar alta relação C/N (30/1), decomposição lenta e imobilização de nitrogênio. Por outro lado, as fabáceas são plantas de decomposição mais rápida e com relação C/N inferior (20/1), promovendo a mineralização de nitrogênio, sendo alternativas interessantes para o fornecimento de nitrogênio ao solo e as culturas comerciais, devido ao potencial de fixação biológica de nitrogênio (dependente da colonização de bactérias nativas), podendo reduzir total ou parcialmente a utilização de adubação nitrogenada. Além disso, tanto poáceas quanto fabáceas podem ser utilizadas em sistemas de consorciação entre espécies (mixes ou blends), visando o equilíbrio entre a relação C/N e decomposição da massa seca, permitindo uma liberação mais lenta de nitrogênio e proteção do solo por maior período de tempo.

Apesar da diversidade de espécies disponíveis como alternativa de diversificação de sistemas agrícolas anuais, semiperenes e perenes para diferentes regiões do Brasil, a exemplo das crotalárias spectabilis, ochroleuca, breviflora e juncea, mucunas preta e cinza, feijão de porco, feijão guandu, lab-lab, nabo forrageiro, trigo mourisco, amendoim forrageiro, espécies de brachiarias, e entre outras, recomendadas para primavera/verão ou outono/inverno, ainda há uma limitação na exploração dessas opções, especialmente na região amazônica.

Em pesquisas conduzidas em condições de campo, no Instituto Federal de Rondônia, Campus Colorado do Oeste, Araújo e colaboradores observaram que o cultivo de plantas de cobertura contribui com grande produção de massa seca, sendo as espécies Crotalaria spectabilis, Crotalaria ochroleuca e Feijão-guandu com maior potencial de produção de massa, na ordem de 14, 13 e 15 toneladas por hectare, respectivamente (Figura 2). Esse incremento de massa seca pode propiciar melhorias significativas das características físicas e químicas do solo e manutenção e/ou elevação do teor de matéria orgânica do solo, manutenção da temperatura do solo, bem como favorecer o desenvolvimento e produtividade de espécies agrícolas em cultivos subsequentes.

Além disso, os pesquisadores constataram que as espécies Lab-Lab e Feijão de porco apesar de menor produção de massa seca foram estratégias eficientes para incrementar o aporte de matéria orgânica, carbono orgânico, nitrogênio e fósforo do solo, promovendo impacto direto na fertilidade da camada superficial do solo (0-10 cm) ainda nos primeiros anos de adoção. E que os resíduos dessas culturas leguminosas possibilitaram a contribuição média de 2.995 kg/ha de N-total, 77 kg/ha de amônio e 56 kg/ha de nitrato no solo (Araújo et al., 2021). Numa visão sistêmica, considerando a recomendação técnica de adubação para a cultura do milho, de 150 kg/ha de N, pode-se inferir uma redução na ordem de 50% e 35% na quantidade de N aplicado na forma de amônio e nitrato no solo, respectivamente, quando tratar-se de cultura em sucessão.

Então, produtor, técnico, auxiliar ou extensionista, a implantação de sistemas de manejo conservacionistas, que têm como princípio a manutenção de cobertura vegetal e seus resíduos sobre o solo, é uma estratégia eficaz para aumentar a sustentabilidade dos sistemas de produção em solos tropicais, visto que a fertilidade do solo é influenciada significativamente pelo sistema de manejo adotado. E ao investir em saúde do solo, todos saem ganhando, pois, solos saudáveis, são menos vulneráveis, mais produtivos e resilientes.

Figura 3. Diferentes plantas de cobertura leguminosas e suas informações técnicas.

Referências

ARAÚJO, E.O; MACIESKI NETO, V.; VENTURIM, D.J; CATÂNIO, J.V.F; FREITAS, D.S; RIBEIRO, J.A.S. Cover crops and concentrations of carbon and nitrogen in Amazonian soil . Australian Journal Crop Science. n.16, v.11, p.1261-1269. 2022. DOI: 10.21475/ajcs.22.16.11.p3787

CARVALHO, M.L.; VANOLLI, B.S.; SCHIEBELBEIN, B.E.; BORBA, D.A.; LUZ, F.B.; CARDOSO, G.M.; Bortolo, L.S.; MAROSTICA, M.E.M.; SOUZA, V.S. Guia prático de plantas de cobertura. Piracicaba:ESALQ-USP,2022, 126p. DOI:10.11606/9786589722151.

CONCEIÇÃO, P.C.; CASSOL, C.; SARTOR, L.R.; CASALI, C.A.; MAZARO, S.M. Plantas de cobertura e saúde do solo. In: MEYER, M.C.; BUENO, A.F.; MAZARO, S.M.; SILVA, J.S. (org). Bioinsumos na cultura da soja. 1. Ed. Brasília: Embrapa, 2022. 550 p. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja

MICHELON, C. J.; JUNGES, E.; CASALI, C. A.; PELLEGRINI, J. B. R.; NETO, L. R.; DE OLIVEIRA, Z. B.; DE OLIVEIRA, M. B. Atributos do solo e produtividade do milho cultivado em sucessão a plantas de cobertura de inverno. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 18, n. 2, p. 230-239, 2019. DOI: https://doi.org/10.5965/223811711812019230

PIETERS, A. J. Green Manuring, Principles and Practice. Agronomist in Charge of Clover Investigations, Bureau of Plant Industry U. S. Department of Agriculture. 1927. Disponível em: https://soilandhealth.org/book/green-manuring-principles-and-practice/: Acesso em: 13 de set. 2023.

 

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