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Brasil precisa exportar mais para crescer, alertam especialistas

O Brasil precisa exportar mais para crescer e encontrar um equilíbrio entre compras e vendas externas, se não quiser ficar para trás em relação a outros países mais industrializados

Brasil precisa exportar mais para crescer, alertam especialistas

O Brasil precisa exportar mais para crescer e encontrar um equilíbrio entre compras e vendas externas, se não quiser ficar para trás em relação a outros países mais industrializados. O comentário foi feito por José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), instituição organizadora do 35º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex 2016), realizado nos dias 23 e 24 de novembro, no Rio de Janeiro.

Durante seu discurso de abertura do evento, entre vários pontos sobre o comércio internacional, Castro citou as vendas externas do setor de manufaturados, que respondem por 40% das exportações brasileiras, enquanto os produtos agropecuários são responsáveis por 60%. Para ele, é inegável a importância do agronegócio para a economia do país, principalmente porque é exatamente esse segmento que está segurando a balança comercial.

O presidente da AEB, ainda assim, fez um alerta: “Se nada for feito, vamos ter de nos contentarmos em sermos uma colônia comercial do mundo industrializado. Não podemos depender só das commodities, porque não temos controle sobre elas”.

O que preocupa Castro é que as exportações brasileiras continuam registrando superávit (R$ 40 bilhões na terceira semana de novembro), porque as importações caíram em decorrência, principalmente, da queda da renda do trabalhador e do aumento do desemprego no Brasil.

Segundo ele, antes da crise econômica e política no país, existia um otimismo em relação ao comércio exterior de manufaturados, mas o sucesso das vendas desse segmento não foi concretizado: “Com o câmbio a quatro reais, o produto brasileiro seria competitivo, mas nós estávamos fora do mercado internacional. E, para entrar no mercado, tem de desalojar alguém; e nós não conseguimos desalojar os chineses, principalmente”. E acrescentou: “No Brasil de hoje, temos de ser competitivos, independentemente da taxa de câmbio”.

REFORMAS URGENTES

Castro relatou que o Custo Brasil ainda é muito alto, o que encarece as vendas externas entre 30% e 35%. Em sua opinião, para o país ser mais competitivo precisaria, urgentemente, promover as reformas tributária, trabalhista e previdenciária.

Ele também salientou a necessidade emergencial de aumentar os investimentos em transporte, infraestrutura e logística, com destaque especial para melhorias nos portos, em território nacional. “Estamos atrasados, o momento ideal para as reformas já passou”, criticou o presidente da AEB.

Castro indicou ainda um dado que pode preocupar, se nada for feito: “No Brasil, temos o dobro de empresas importadoras em comparação às exportadoras, ou seja, estamos comprando mais produtos de fora do que vendendo”.

Para reforçar ainda a lentidão do crescimento nacional em relação ao comércio exterior, o executivo lembrou que, em 1999, o Brasil era responsável por 0,99% das exportações em todo o mundo; enquanto a China, respondia por 0,44%. “Hoje, nosso país responde por 1,16% das exportações e a China por 13,5%”, comparou. “O tempo está passando e nós nada fizemos.”

Também participaram da mesa de discussões durante a abertura do 35º Enaex: Sérgio Amaral e Marcos Caramuru, embaixadores do Brasil nos Estados Unidos e na China, respectivamente; os ex-ministros Ernane Galvéas e João Paulo dos Reis Velloso; e o ministro interino Marcos Jorge de Lima, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em substituição ao titular da pasta, Marcos Pereira, que está em viagem ao exterior.

Ainda estiverem presentes na mesma ocasião: o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Carlos Mariani Bittencourt; e o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antônio Mello Alvarenga.

 INDÚSTRIA NACIONAL

Durante seu breve discurso, o ex-ministro Ernane Galvéas lembrou que o Brasil tinha uma enorme dependência do petróleo, mas essa situação mudou muito. Outro ex-ministro, João Paulo Velloso comentou que a indústria brasileira vem, progressivamente, perdendo força: “Hoje, não é essa a indústria que queremos para o Brasil”.

Já o vice-presidente da Firjan, Carlos Mariani Bittencourt, destacou que o Brasil é a nona economia do planeta, mas ocupa o 27º lugar entre as principais nações exportadoras, com apenas 1,3% de participação. Em sua análise, o governo federal vem trabalhando, positivamente, desburocratização de certos procedimentos voltados ao comércio exterior, no entanto, essas ações estão sendo travadas pelas dificuldades no desembraço aduaneiro.

“O comércio exterior não pode ser uma válvula de escape para a queda da demanda no mercado interno. Ele precisa ser uma política de Estado”, disse Bittencourt.

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Representando o agro durante a abertura do 35º Enaex, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, citou importantes números do setor agropecuário nacional.

“Em 1960, o Brasil era importador de alimentos; hoje, estamos entre os maiores exportadores. Entre 2011 e 2015, o saldo da balança comercial do agronegócio foi de 400 bilhões de dólares, resultado que cobriu o déficit dos demais setores da nossa economia”, informou. “O que seria do Brasil se não fosse esse desempenho das exportações do agro?”, questionou.

Ainda citando números importantes para o país, ele destacou que a agropecuária representa 45% das exportações, 24% do Produto Interno Bruto (PIB) e 30% dos empregos.

“Isso pode ser atribuído ao aumento das exportações das nossas commodities para a Ásia, principalmente para a China, e para o Oriente Médio. Em 20 anos, crescemos 643% no valor das nossas exportações de produtos de origem agropecuária. Hoje, somos os maiores produtores e exportadores de suco de laranja, açúcar e café, por exemplo”, destacou o presidente da SNA.

Ele ainda ressaltou que “somos os maiores exportadores e o segundo maior produtor de carne bovina do mundo; o segundo maior produtor e segundo exportador de soja; o maior exportador de carne de frango; e o segundo maior exportador de milho”.

“Exportamos açúcar para 132 países; café para 123; e suco de laranja para mais de 40 nações. Exportamos 31 bilhões de dólares do complexo de soja; 17 bilhões de dólares de carne; e dez bilhões de dólares do complexo sucroalcooleiro. Esse é o Brasil que está dando certo”, afirmou Alvarenga.

O presidente da SNA também comentou que, enquanto a produção do agro brasileiro cresceu 262% nos últimos anos, a área plantada teve um aumento de apenas 53%.

“Isso significa que o produtor rural conseguiu maior produtividade sem a necessidade de ampliar as áreas de cultivo, graças, principalmente, ao emprego de novas tecnologias no campo.”

FALTAM INVESTIMENTOS

Apesar desse cenário positivo, Alvarenga afirmou que o agronegócio brasileiro poderia ter crescido muito mais não fossem alguns entraves importantes, como a falta de investimentos em infraestrutura, transporte e logística.

“Para fazermos um comparativo, enquanto nos EUA menos de 5% da safra é transportada por caminhões; no Brasil, são quase 60%. Nosso custo médio gira em torno de 92 dólares nessa logística; enquanto os EUA e a Argentina gastam em torno de 23 dólares”, informou.

Alvarenga garantiu ainda que “quem paga essa conta é o produtor rural e, por isso, é necessário solucionar esses problemas de logística e de transporte”.

“Também precisamos manter uma agressividade maior em relação ao estabelecimento de acordos comerciais com outros países, que foram iniciados durante a gestão da ministra Kátia Abreu, e agora com o atual ministro Blairo Maggi, que está apresentando o agro brasileiro para diversos países.”

Na visão do presidente da SNA, “precisamos modernizar nossa legislação brasileira, que hoje proíbe, por exemplo, que estrangeiros possam comprar terras em território nacional”.

“Não há possibilidade de aumentarmos nossa produção, para atender às expectativas de consumo global, sem os indispensáveis investimentos internacionais. Precisamos desse dinheiro, que poderá ser investido em infraestrutura, logística, transporte, nas agroindústrias e nas indústrias. Tudo isso para que o agro continue crescendo e mantenha seu bom desempenho. ”

Na opinião de Alvarenga, o Brasil precisa continuar investindo em novas tecnologias no campo, na defesa sanitária e na solução de problemas institucionais, como o excesso de burocracia e questões que envolvem a “farra das demarcações de terras indígenas”.

“Enfim, a agricultura e a pecuária brasileira são altamente produtivas e sustentáveis. Por isso tudo é que temos de valorizar nossos produtores rurais.”

MDIC

Durante seu discurso na abertura do 35º Enaex, o ministro interino Marcos Jorge de Lima, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, citou números nacionais, projetos e algumas iniciativas que serão tomadas nos próximos anos.

Disse que, embora tenham sido observadas quedas tanto nas importações quanto nas exportações, o Brasil registra um saldo positivo que supera a marca dos 40 bilhões de dólares na balança comercial, de janeiro até a terceira semana de novembro. “Caminhamos para fechar o ano com um superávit entre 45 bilhões de dólares e 50 bilhões.”

Ele acredita que, com esse desempenho, o superávit da balança comercial (quando se exporta mais e importa menos) pode ser recorde, desde o início da série histórica, iniciada em 1999, em comparação aos 46,5 bilhões de dólares alcançados no ano de 2006.

Lima destacou ainda que, no acumulado deste ano, o superávit nacional já chegou aos 40,4 bilhões de dólares, como fruto das vendas externas em torno de 162 bilhões de dólares e importações de aproximadamente 121,6 bilhões de dólares.

O ministro interino também garantiu que a atual gestão do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços “está comprometida com a abertura do comércio internacional, desburocratização, competitividade e inovação no país”.

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